"Fábulas Ancestrais"
Número 3 - Hoje e amanhã
Os caminhos nos levaram ao rio Zara, nas mais baixas terras
de Zuinga. Local de vastas planícies verdejantes da matriarcal aldeia de
artífices importantes. Encontramos na mãe terra, a diferença entre o hoje e o
amanhã. Superamos com a mãe Deusra a descrença de Bosje no amanhã.
Perto do rio Zara as terras inundam no outono. Tudo torna
lama e as plantas afundam no abandono. Deusra era da tribo a líder, Bosje era
estribo a atender. Nossas andanças em busca de alimento revelavam a dependência
de fomento.
- O amanhã é pura fé; o hoje seguro é - disse Bosje em tom
de deboche.
- Por certo que é no hoje que vivemos, mas no amanhã está o
fim dos tormentos - Deusra respondeu a um dos seus.
- Responda em alta voz mãe bondosa, chefe de todos nós.
Poderosa. Era Bosje, mais uma vez desafiante, poder de macho que em comunidade
perdia, para a fêmea, em superioridade.
Do gu´un ancestral a união contra a dependência, pelo bem
comum e a moral, a opinião montra era fêmea.
O crescimento revelava ao garoto que a mãe era a família,
sem ela esconder que não vai, em tempos de livres matrimônios, responder ao
questionamento que surgia, pois a mãe não poderia responder sobre o pai de
campos alhures anônimos.
- A mulher não poderia ter o direito de ser ela o centro
das uniões gu´un. A mulher não poderia ter o direito de ser ela a transmissora
da sabedoria gu´un. A mulher não poderia ter o direito de ser ela o alicerce
dos gu´un - disse, finalmente, Bosje, o que tinha em mente.
- Meu bom Bosje, milhares de anos passaram por nós, assim
como para todos os animais. O hoje surgiu do ontem como um amanhã esperançoso.
Não podes tu perceber como a natureza nos ensina? Pois eu faço agora tu
pereceberes a beleza da menina.
Bosje rapidamente perdeu a atenção que tivera por alguns
instantes, naqueles tempos onde nenhum homem era capaz de ter presenças
importantes.
- Meus amados filhos, aqui a mãe Deusra, de tantos anos
vividos e de grande experiência adquirida revela o que sabe da natureza. Desde
os insetos, como abelhas e formigas, até mamíferos, dos menores como o
suricata, aos maiores como elefantes e leões, em todos é o macho quem deixa os
seus e a fêmea que os recebe.
- Conte-nos uma estória - disse uma pequena.
- Uma boa lição que vem de Dantaia é a de Boga o leão. Em
uma região desconhecida la na praia, onde uma união esquecida e instável tinha
nas fêmeas seu chão.
A atenção a Deusra já era total e a Bosje nem marginal.
- Bocejava aqui, bocejava acolá, assim era Boga, não tinha
preocupação era o dono da atenção. Prestava o serviço da proteção. As leoas
caçavam, era de Yala a liderança, mas todas alicerçavam o que vinha da
perseverança.
- Mas como pode, um leão como Boga, que é bem parecido com
Bosje, poder não fazer nada? - Inquiriu uma das crianças, sem perceber que em
sua inocência, feria o orgulho da prepotência.
- Minhas doces crianças, na natureza nada é por acaso, o
orgulho do leão vai com o tempo, que passa e traz mudanças, representando o
ocaso para todos os Bogas que não tem mais o tempo. A juventude tem a força e a
beleza que são suas únicas utilidades. Mas se o jovem se vale somente nisso,
vivendo o hoje como vaidade, não é capaz de cativar amizade. Boga era útil e
valeu-se disso, e as leoas sem caridade, não desejavam vulnerabilidade. Quando
um outro "Boga" apareceu, nenhuma delas o outro defendeu.
O tempo voou tão rápido e as atenções estavam tão
concentradas na mãe Deusra que ninguém notou a saída de Bosje. O macho ferido
em seu orgulho não teve como negar que era como os Bogas de vontades imediatas,
sem um futuro hoje. Mas percebeu que é facilmente dispensável se não cativa no
grupo a amizade previdente.