Recentemente, a HBO Max e agora a Disney Plus decidiram remover conteúdos de suas plataformas. Segundo o CEO da Disney Bob Iger: "Percebemos que criamos muitos conteúdos que não colaboraram com o crescimento, por isso ficamos muito mais cirúrgicos sobre o que fazemos. Então, enquanto procuramos reduzir os gastos, tentamos fazer de uma forma que não tenha nenhum impacto para os assinantes".
Lendo essas palavras, a primeira coisa que me vem à cabeça é como a Netflix realmente moldou o mercado de streaming mesmo antes dos grandes estúdios de Hollywood entrarem na corrida.
A gigante vermelha começou lançando suas séries originais de forma modesta, visto que seu catálogo era alimentado basicamente por conteúdo de terceiros. Com o passar do tempo, esses contratos foram expirando e ela começou a aumentar sua produção de originais e a buscar produções internacionais fora do eixo hollywoodiano.
Assim, o público foi se acostumando a receber uma enxurrada de lançamentos em escala fordista. Não é à toa que, se observarmos, não encontramos mais filmes antigos com tanta facilidade, e quando digo antigos, refiro-me a de 2010 para trás.
Antes da Netflix inaugurar esse mercado, eramos bombardeados por reprises de filmes, desenhos ou séries na televisão. As videolocadoras podiam muito bem viver com filmes antigos e ir adquirindo os novos a medida que eram lançados.
O filme que deixava de ser exibido nos cinemas demorava meses até chegar nas locadoras. Depois, mais um período para a TV por assinatura para, enfim, estrear na TV aberta. Esse processo poderia demorar, às vezes, um, dois, três anos.
Com o crescimento do streaming, e a derrocada da mídia física, essa janela entre o cinema os lares só fez diminuir. Um exemplo recente é a maior bilheteria do ano, "Super Mario Bros. O Filme", que foi lançado nos cinemas no dia 6 de abril de 2023 e chegará às plataformas digitais sete semanas depois, no dia 25 de maio.
Esse foi um ponto que os estúdios tradicionais que entraram na corrida do streaming não colocaram em sua equação. Por mais que a HBO Max, a Paramount e a Disney tenham um incrível acervo de filmes, infelizmente, o público só têm interesse em lançamentos recentes.
Além disso, o período pandêmico acelerou essa mudança de comportamento, já que muitos buscaram por entretenimento no streaming. O que levou a um aumento significativo na demanda por novos conteúdos e, como resultado, as empresas estão constantemente lançando novas atrações para manter seus assinantes engajados.
E isto, pode ser uma armadilha. Ao entrarem nessa lógica, o público vai perdendo o costume de consumir obras antigas e reprises, assim se interessando apenas por lançamentos.
É preciso que se entender a importância da Cauda Longa na carreira de um filme, dando-lhe a oportunidade dele encontrar novos públicos em várias plataformas, mesmo após sua estreia nos cinemas.
Embora as janelas de exibição tenham mudado com a evolução das tecnologias, a ideia de que um filme possa continuar a gerando receita ao longo do tempo através de vários meios de exibição permanece válida.
Isso não só aumenta a probabilidade de uma produção se viabilizar economicamente, como reduz a necessidade de se investir em novos lançamentos de forma tão volumosa.
No final das contas, a mudança no mercado de streaming é inevitável e as empresas que conseguirem se adaptar melhor a esse novo cenário terão mais chances de sobreviver e prosperar.
A Netflix já mostrou que é possível criar um império a partir do zero e as demais concorrentes agora precisam aprender com seus erros e acertos para garantir seu lugar nesse ramo cada vez mais competitivo.