Atualmente, o Brasil abriga cerca de três mil salas de cinema, grande parte delas situada em shoppings centers. No entanto, essa realidade nem sempre foi assim. Antes da ascensão desses templos de consumo, os cinemas eram estabelecidos em prédios próprios, popularmente conhecidos como "cinemas de rua".
Em seu novo filme, Kleber Mendonça Filho explora a relação entre a cidade de Recife e seus cinemas de rua em um documentário com um tom muito autobiográfico.
O cineasta recorre a testemunhos orais e à pesquisa em arquivos para contar a história dos cinemas de rua de Recife. Esse trabalho de investigação é um dos pontos centrais do documentário. Com diversos registros do início do século passado, o público é convidado a fazer uma viagem no tempo pela capital pernambucana.
Entretanto, o diretor não se limita a relatar apenas as memórias das salas de exibição. Ele também compartilha um pouco de sua própria história, que se entrelaça com a de Recife, uma vez que a utiliza como personagem do filme, algo que costuma fazer em suas produções ficcionais como "Aquarius" e "O Som ao Redor", obras que também abordam os impactos da especulação imobiliária sobre a cidade.
Com 1 hora e 30 minutos de duração, o documentário possui um início lento e uma barriga no meio que se arrasta consideravelmente, deixando a sensação de que se trata de horas intermináveis, embora haja breves momentos de alívio quando o ritmo da narrativa volta a fluir.
Portanto, "Retratos Fantasmas" é indiscutivelmente um bom documentário, mas peca ao tornar-se uma narrativa excessivamente pessoal de Kleber Mendonça Filho. O diretor conduz praticamente tudo através de narração em off, oferecendo poucas oportunidades para perspectivas diversas.
Nota:7
"Retratos Fantasmas" estreia dia 24 de agosto nos cinemas.