Resistência | Crítica

Em "Resistência", somos transportados para o ano de 2065, quando as Inteligências Artificiais (IA) criadas para auxiliar os humanos lançam uma ogiva nuclear na cidade de Los Angeles. 

O evento faz com que os Estados Unidos levem o Ocidente a entrar em guerra contra a Ásia, onde as IAs são totalmente integradas à sociedade, convivendo pacificamente com os humanos.

É neste cenário que Joshua (John David Washington), um militar veterano amargurado pela morte da esposa, é recrutado para caçar o Criador, o arquiteto da arma que pode determinar os rumos da guerra.

Um dos grandes trunfos de uma boa ficção científica não é prever o futuro, mas tecer comentários sobre o que está acontecendo no presente. "Resistência" faz exatamente isso, cria um cenário futurista estilizado para discutir tensões políticas e a ascensão das inteligências artificiais que estão sendo observadas hoje.

Ao longo da história contemporânea, os Estados Unidos utilizaram pretextos semelhantes para justificar intervenções militares em outros países.

Em 1898, alegaram que a destruição do navio "USS Maine" em Havana foi uma manobra da Espanha para intervir no processo de independência de Cuba, garantindo seus interesses na ilha, incluindo a atual prisão de Guantánamo.

Na Segunda Guerra Mundial, só entraram no conflito após o ataque japonês a Pearl Harbor em 1941, embora já estivessem envolvidos indiretamente.

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, foi empreendida uma invasão ao Iraque sob a alegação de que o país possuía armas de destruição em massa, que nunca foram encontradas durante os oito anos de ocupação pelas tropas americanas.

Entretanto, o filme não olha apenas para o passado; ao criar um confronto entre o Ocidente e o Oriente, ele também explora as crescentes tensões geopolíticas entre os Estados Unidos e a China.

A China é uma nação que nas últimas décadas vem experimentando um vertiginoso desenvolvimento, deixando de ser um país pobre de economia agrária para se tornar uma grande potência industrial e tecnológica, desafiando a hegemonia dos Estados Unidos no mundo.

A mensagem política de "Resistência" é explícita. O roteiro retrata os EUA como vilões sem amenizar a situação do país.

Outro tema explorado ao longo do filme é a eterna questão da humanidade. Em diversos momentos, somos confrontados com a ideia de que os robôs não possuem a condição humana e não são autenticamente reais. Portanto, não haveria motivo para sentir empatia por eles.

Contudo, somos apresentados a inteligências artificiais não apenas demonstrando sentimentos, mas também realizando ações que inicialmente pensávamos ser exclusivas dos seres humanos.

Diferentemente de outros animais que até sentem a perda de um igual, é sabido que apenas os humanos criam rituais elaborados para se despedirem de seus mortos. Mas quando androides realizam atos semelhantes, questionamos se, mesmo que a IA não seja humana, ela representa uma extensão de nossa evolução, não biológica, mas da nossa cultura.

Assim, será que elas merecem ser tratadas sob as mesmas leis que nós? Este é um dilema ético que o filme habilmente coloca em pauta, um debate que se torna ainda mais relevante à medida que a linha que separa o que é humano ou não se torna cada vez mais tênue.

Se um dia os robôs se tornarem idênticos a nós ao ponto de não notarmos as diferenças, devemos nos perguntar se isso importa.

Também cabe destacar a trilha sonora de Hans Zimmer, que entrega uma excelente composição, mesmo não sendo tão grandiloquente como de costume, aqui, ela não decepciona. 

Além disso, a escolha de "Everything in Its Right Place" da banda Radiohead foi muito apropriada, com uma forte influência da música eletrônica, conversando muito bem com a temática do filme.

Diante do exposto, o longa parece ter sido influenciado por "Animatrix". Durante o prólogo, temos uma cena muito semelhante ao episódio "O Segundo Renascimento". Além dessa introdução também contar o que ocorreu antes e depois da explosão, assim como em Matrix.

"Resistência" é, sem sombra de dúvida, um filme que merece ser visto na tela grande. Pode não ser o sci-fi mais inovador, mas é um grande acerto do diretor Gareth Edwards, que entrega uma obra belíssima e reflexiva, como um bom filme do gênero merece.

A construção do mundo é tão rica que surpreende, considerando que se trata de um roteiro original e não de uma adaptação de um universo amplamente desenvolvido em outras mídias.

Nota: 9

"Resistência" estreia dia 28 de setembro, quinta-feira, nos cinemas.