Amanhã | Crítica

Dirigido por Marcos Pimentel, "Amanhã" é um documentário que mergulha nas mudanças sociais do Brasil ao longo de duas décadas, utilizando a Barragem Santa Lúcia em Belo Horizonte como pano de fundo para explorar as disparidades entre as classes sociais.

A barragem se destaca pela sua extensa lagoa artificial, que separa uma favela de um bairro de classe média visíveis em suas margens opostas.

A proposta inicial do filme é revisitar a vida de jovens adultos oriundos dos dois lados da barragem, vinte anos após o registro de uma reunião deles na infância.

Eles são o casal de irmãos Júlia e Cristian, do lado mais carente, e Zé Tomas do lado mais abastado.

Enquanto crianças, tiveram um encontro durante um fim de semana, visitando a casa um do outro. Mesmo com gritantes diferenças, a inocência infantil ficou evidente, sem os preconceitos que os adultos frequentemente carregam.

Ao retornar ao local após o governo de Bolsonaro, o documentarista mostra as mudanças radicais ocorridas no país e como essas transformações afetaram não apenas as crianças, mas toda a sociedade.

O documentário não se limita a retratar as vidas de seus personagens, abordando também as dificuldades do diretor na realização do filme, destacando a natureza dinâmica do processo de documentar a realidade e como as perspectivas mudam com o tempo.

Uma das dificuldades está na relutância de Zé Tomas em retomar o projeto após atingir a idade adulta, evidenciando o desafio de realizar um projeto que conta com o retorno de alguém após tanto tempo. Neste ponto, nos faz refletir sobre a grandiosidade de obras como "Boyhood" (2014) de Richard Linklater.

Por sua vez, Júlia e Cristian se apresentam como pessoas instáveis, nem sempre confiáveis. Apesar de tentarem demonstrar força em seus discursos e vontades, acabam sendo tão frágeis quanto seu meio social. Quando se sentem deprimidos e vulneráveis, acabam por boicotar as filmagens do documentário.

Deste modo, "Amanhã" é mais do que um simples registro sobre as mudanças sociais ocorridas no Brasil neste primeiro quarto de século; é uma obra que estimula a reflexão sobre as divisões profundas na sociedade brasileira, presentes desde sua formação. 

Além disso, aborda como o próprio tema do documentário provoca imprevisibilidades, mudanças e adaptações na empreitada cinematográfica.

"Amanhã" estreia dia 29 de fevereiro nos cinemas.

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