Baseado no livro de Martin Amis, "Zona de Interesse" se destaca por se um filme sobre o genocídio de judeus em Auschwitz sem mostrar em tela os horrores que aconteciam no local, mas se focando no cotidiano da família do oficial nazista Rudolf Höss (Christian Friedel), responsavel pela administração do campo de concentração.
Desse modo, o roteiro evita criar o estereótipo hollywoodiano do "Alemão Nazista" ao retratar o personagem em seu seio familiar, causando assim mais impacto.
Ao mostrar uma reunião com dois arquitetos que foram a sua casa para discutir o projeto das câmeras de gás. Sem gritos ou exageros, é mostrada forma fria como uma sala de chacina é discutida, o que coaduna com a ideia de "Banalidade do Mal" de Hannah Arendt.
O Design de Som é o ponto alto do filme, a sonorização é utilizada para evidenciar o que ocorre entre os muros de Auschwitz, porém sem perturbar a dinâmica da família se divertindo em seu "Jardim do Éden" ou em passeios ao ar livre.
Porém, quando Rudolf Höss recebe uma promoção para trabalhar em outro lugar, sua esposa Hedwing (Sandra Hüller) não gosta da ideia, pois criou laços com a residência. Ela até pensa em pedir a Hitler para a família ficar na confortável casa ao lado de Auschwitz. A mulher não se importa de viver perto de um lugar onde pessoas são mortas todos os dias.
Assim, "Zona de Interesse" aborda questões que também dialogam com o que acontece nas grandes cidades, onde bairros mais pobres são ignorados pelos mais ricos. E os sons de tiros que escancaram o problema da violência urbana, são banalizados e naturalizados, se incorporando a paisagem do local.
Além disso, ao longo do filme há pequenas partes onde o fluxo narrativo do filme é interrompido, quando é usada uma fotografia "negativada" para mostrar a distribuição clandestina de comida para os prisioneiros. E ao final temos um corte para mostrar Auschwitz hoje em dia como um museu, causando náuseas em Höss como se ele estivesse vivendo a mesma experiência que nós.
Posto isto, "Zona de Interesse" é um bom filme sobre o Holocausto, merecendo todas as indicações e premiações que vem recebendo nesta temporada. Pode não agradar a todos, mas vale a pena revisitar com o tempo.
Nota: 7,5