Fúria Primitiva | Crítica


    Em fevereiro de 2022, a Netflix anunciou em seu blog oficial, Tudum, os lançamentos daquele ano. Entre eles estavam filmes como “Projeto Adam”, “Nada de Novo no Front”, "Enola Holmes 2" e o filme do diretor estreante Dev Patel, "Monkey Man". Agora, em 2024, após muitos contratempos, "Fúria Primitiva", título nacional, chega aos cinemas do país no dia 23 de maio.

    Em 2021, após o fim das gravações, a Netflix fechou um acordo e adquiriu o longa de Patel por US$ 30 milhões. A ideia era vender o filme como um selo original da empresa e promovê-lo como uma espécie de John Wick “indiano”. No entanto, o longa, inicialmente previsto para estrear em 2022, teve sua data alterada para 2023. Em meados de 2023, a Netflix decidiu devolver "Fúria Primitiva" aos seus produtores, desistindo de lançar o filme em sua plataforma. O motivo? A Netflix e o Ocidente “moderno” e inclusivo não sabem vender ativismo em filme de ação Brucutu.

    Na trama, acompanhamos Kid (Patel), um jovem que trabalha em lutas arranjadas, mas que tem um único objetivo: infiltrar-se em um clube noturno para chegar próximo das pessoas que mataram sua mãe quando ele era criança e destruíram a vila onde moravam.

    Quando o filme foi divulgado, a própria Universal (nova detentora dos direitos) vendeu o longa como um filme similar a "John Wick". O “problema” é que o filme dirigido por Patel vai muito além da proposta de ser apenas um filme de ação desenfreado. O diretor/roteirista tinha a intenção de realizar denúncias com sua história sobre a sociedade indiana.

      A Netflix, que adora se vender como uma empresa que tem produtos inclusivos e que defende a pauta LGBTQIA+, decidiu pular fora do barco quando percebeu o conteúdo da trama. Patel não constrói um filme que leva seu personagem apenas para a ação, mas desenvolve uma trama onde a ação é o ponto de origem para que nós nos aprofundemos nos problemas que aborda, como especulação imobiliária, falsos profetas, desigualdade social, corrupção de agentes públicos, sociedade de castas e LGBTQIA+.O longa que deveria ser um filme de ação com inspirações nos longas de Keanu Reeves, na verdade é mais um longa político.

    Patel aproveita-se da rica cultura da Ásia Meridional, onde o hinduísmo, uma religião que se desenvolveu ao longo de vários milênios e com uma infinidade de deuses e deusas, o hinduísmo possui um dos maiores conjuntos de narrativas míticas do mundo. E é na história de Hanuman, deus-macaco, que o diretor vai conduzir sua história. 


    Patel aproveita-se da rica cultura da Ásia Meridional, onde o hinduísmo, uma religião que se desenvolveu ao longo de vários milênios, prevalece. Com uma infinidade de deuses e deusas, o hinduísmo possui um dos maiores conjuntos de narrativas míticas do mundo. É na história de Hanuman, o deus-macaco, que o diretor conduz sua narrativa. Utilizando a história de Hanuman, o diretor/roteirista simbolicamente diz ao seu público que os menos afortunados da Índia também são beneficiados pelos deuses, e que estes não estão apenas ao lado dos mais ricos e poderosos.

    Embora o longa trabalhe com esses conceitos, não esperem assistir a um “Parasita” com tiro, porrada e bomba. As críticas sociais do filme estão ali, diluídas no roteiro, algumas mais evidentes e trabalhadas do que outras, como, por exemplo, a questão da comunidade LGBTQIA+ e a questão dos falsos profetas.


    "Fúria Primitiva" é um filme de ação com crítica social. Ele não reinventa a roda quando pensamos em filmes como "Vingador do Futuro" e "O Sobrevivente", ambos coincidentemente protagonizados por Arnold Schwarzenegger, que já faziam isso muito bem. No entanto, o diferencial aqui talvez seja que Patel se dedica mais a apostar em um drama com ação do que em uma ação com drama.

    O filme provavelmente não agradará ao público masculino que nunca percebeu que filmes como os citados acima também são políticos e repletos de críticas à sociedade estadunidense. A única diferença é que "Fúria Primitiva" se passa na Índia. No entanto, Patel acerta ao contar uma história que poderia acontecer em qualquer lugar do mundo, sendo fácil de adaptar em qualquer país, inclusive o nosso.

 

Nota: 7/10