Isaac Asimov, sem sombra de dúvida, é um dos pais da ficção científica quando se trata de robôs. O autor foi responsável pela famosa "três leis da robótica", que garantem que nenhum ser autômato machuque um humano e a si mesmo.
Em uma coleção de contos de robôs editada por Asimov, no prefácio do primeiro volume, o autor expõe o medo que nós, humanos, temos em relação à invenção do robô. O pai das três leis da robótica afirma que existe na humanidade um medo da novidade. Ele traça toda uma linha argumentativa, começando por Leonardo Da Vinci e o uso dos algarismos arábicos, passando pelo sistema métrico e a relutância dos EUA em se adequar ao resto do mundo sobre a questão do calendário, indo até a disposição das teclas de uma máquina de escrever.
Realmente, somos seres com certa relutância à novidade, principalmente quando essa novidade pode interferir no emprego de milhões de pessoas; claro que alguns desses medos são pura ignorância da nossa espécie. Peguem, por exemplo, a famosa história dos produtores de velas com medo da luz elétrica.
Asimov continua seu argumento até chegar nos robôs. A crítica dele vai de encontro à síndrome de Frankenstein, onde "o homem cria o robô; o robô mata o homem". E é neste contexto que ele cria as três leis da robótica, para combater, como ele mesmo fala, esse chavão da ficção científica da criatura que mata o criador. O que o "pai dos robôs" esquece é que esse mundo que ele defende está apenas na cabeça dele. Claro que as três leis que ele criou são maravilhosas e que esse medo que temos da novidade, neste caso, o robô, pode ser superado, mas em um mundo onde as Big Techs estão cada dia mais poderosas, essa visão do robô amigo da humanidade não cola, tanto que alguns filmes já demonstram isso.
As empresas do Vale do Silício não ganham apenas dinheiro desenvolvendo novas tecnologias; outro mercado floresceu com o advento dos smartphones e dos aplicativos. A venda de dados dos usuários hoje é um grande negócio no mundo das Big Techs, pois não apenas ajuda a vender outros produtos, como também a alienar os usuários nas redes sociais. Por isso, a venda de dados é muito importante.
Muitas residências têm um aspirador robô. Diferente do Robocop, o aspirador não vai matar ninguém, mas esse ajudante tem outra função para as empresas: espionar sua casa. Em 2017, foi publicada uma reportagem sobre uma fabricante de aspirador de pó robô, que admitiu que pretende vender dados sobre as plantas das residências. O robô aspirador consegue mapear a casa enquanto faz a limpeza. Com essa coleta de informações, as empresas podem fornecer esses dados para um setor de lojas de móveis e, de repente, pode aparecer um anúncio em sua rede social sobre um móvel que ficaria belíssimo em sua sala.
Outro perigo está nos wearables, esses novos dispositivos que são vestíveis, como relógios inteligentes, óculos, pulseiras, entre outros. Muitos destes aparelhos realizam monitoramento da saúde do usuário. Quem garante que esses dados não estão sendo vendidos para empresas de planos de saúde ou do ramo farmacêutico?
Por mais que tenhamos todo um medo das novas tecnologias e que sejamos relutantes às novidades, hoje em dia, muitas pessoas não estão mais preocupadas com certas mudanças. Parece que a tecnofobia que Asimov sempre criticou meio que diminuiu. Hoje em dia, as grandes empresas anunciam vários produtos que não respeitam regras de privacidade, e ninguém tem medo de seus dados serem coletados, zombam da espionagem realizada pelas empresas do Vale do Silício, achando que a espionagem que eles praticam seja iguais aos dos filmes e que o que eles como usuários não têm nada a oferecer, mas é ai que mora o perigo. A cada dia que passa, mais e mais dados são retirados dos usuários pelas empresas, que utilizam eles para infinitos objetivos: seja oferecer um produto em uma propaganda nas redes socias, seja moldado sem que seja perceptível o comportamento dos usuários.
Seja como for, realmente não devemos temer os robôs, mas
seus criadores humanos.