A experiência de assistir a um filme no cinema é única e muitas vezes não conseguimos replicá-la assistindo ao filme em casa. No cinema, você compartilha com várias pessoas sentimentos coletivos que a trama proporciona ao telespectador. No entanto, "Entrevista com o Demônio", que estreia agora nos cinemas, é um filme para ser assistido em casa, e eu explico isso para você neste texto.
Na trama, acompanhamos Jack Delroy (David Dastmalchian), apresentador de um talk show que, vendo a audiência do programa despencar e muito desmotivado após a morte de sua esposa, fica desesperado por uma reviravolta em sua carreira. Determinado a resgatar a fama e reconquistar o público, Jack planeja um especial de Halloween que promete ser inesquecível. No entanto, ele não imagina que está prestes a desencadear forças malignas que ameaçam sua vida e a de todos os envolvidos no programa.
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Um dos pontos de destaque de "Entrevista com o Demônio" é sua fotografia televisiva. O longa opta pela proporção de 4:3, comum nos antigos televisores de tubo, para criar uma atmosfera televisiva para a audiência. Isso gera uma imersão maior quando assistimos ao filme em casa, mesmo que hoje em dia as televisões sejam de tela plana. Por isso, defendo que o filme, assistido em casa, cria uma imersão e aproximação maior para o público. Afinal de contas, estamos assistindo a uma trama que é um simulacro de um late show. Mas isso não significa que você tenha que assistir "Entrevista com o Demônio" em casa; essa opção seria para o público mais criterioso que aprecia o cinema. Eu assisti ao filme tanto em casa quanto no cinema, e ele é maravilhoso. A questão apresentada aqui é sobre a imersão para um público mais voltado para o cinema.
Os irmãos Cairnes, que assumem a direção e o roteiro, não trazem apenas a imersão no quesito apresentado acima. A contextualização da época em que a trama se passa é outro acerto. Ambientado no final dos anos 70, o longa contextualiza muito bem o público no momento histórico, apresentando elementos reais ao longo do roteiro.
Por falar em James Randi, o longa também tem seu cético para provar que tudo que se passa no programa não passa de truques. Christou (Fayssal Bazzi), um suposto paranormal, é desmascarado ao vivo pelo famoso Carmichael Haig (Ian Bliss), no melhor estilo James Randi. Anteriormente conhecido como "O Incrível Randi", o ilusionista começou a desmascarar falsos paranormais e outros do nicho, oferecendo um prêmio em dinheiro, no valor de 10 mil dólares, hoje em dia está na casa de 1 milhão de dólares, para quem provasse ter poderes. Esse joguete com o roteiro funciona muito bem para a trama, gerando dúvida ao longo da história. [aqui]
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Essa aproximação com eventos da época permite que, para quem conhece esses fatos, como eu, a experiência seja sensacional. Mas o longa protagonizado por David Dastmalchian não é bom apenas por causa destes detalhes que dão todo um requinte à trama. O próprio Dastmalchian, um ator que poucos dão atenção, entrega uma performance totalmente dual quando está na frente e atrás das câmeras de seu programa. Você sente a agonia de seu personagem que precisa urgentemente alavancar a audiência para se manter vivo na TV e que percebe algo de errado quando enxerga o sobrenatural acontecendo. Isso faz com que o apresentador e seu produtor apelem para temas polêmicos no programa, uma prática muito comum que pode ser observada durante os anos 90 na TV brasileira, principalmente nos programas dominicais, que apelavam com nudez e o próprio sobrenatural.
"Entrevista com o Demônio" é um filme que vale o ingresso do cinema, principalmente se você está aberto à proposta do longa. Filmes como este estão cada dia mais raros no cinema, e por mais que eu entenda que ele funciona melhor na TV de casa, assisti-lo no cinema ainda é uma experiência sensacional.
Nota: 8,5
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