Jardim dos Desejos | Crítica


O mal assume diversas formas, mas talvez a mais insidiosa seja aquela que não deixa rastros evidentes. 

    Quando conseguimos identificar uma ameaça, temos uma chance maior de nos defendermos. No entanto, quando o mal se oculta nas entranhas da sociedade, sem deixar vestígios, nossa capacidade de defesa se fragiliza. Este é o tema explorado no lançamento de hoje (30) nos cinemas nacionais, "Jardim dos Desejos", estrelado por Joel Edgerton, Quintessa Swindell e Sigourney Weaver. Narvel Roth (interpretado por Joel Edgerton) é o meticuloso horticultor dos Jardins Gracewood. Ele dedica-se tanto ao cuidado dos terrenos dessa bela e histórica propriedade quanto a agradar sua empregadora, a rica viúva Sra. Haverhill (Sigourney Weaver). Contudo, o caos irrompe na existência espartana de Narvel quando a Sra. Haverhill exige que ele aceite sua problemática e conturbada sobrinha-neta, Maya (Quintessa Swindell), como nova aprendiz, desvendando segredos sombrios de um passado violento enterrado que ameaçam todos eles.

    O diretor Paul Schrader apresenta uma trama reflexiva sobre a identificação do mal e sua habilidade de se camuflar; não somente isso, mas também explora a figura do homem que esconde um passado sombrio por trás de uma fachada profissional. Este tema já foi abordado em seus dois longas anteriores: "Fé Corrompida" (2017) e "O Contador de Cartas" (2021). Podemos considerar "Jardim dos Desejos" como o terceiro filme desta trilogia, intitulado "Homem em um Quarto".

    Narvel Roth esconde os estigmas de seu passado neonazista, enquanto mantém em seu comportamento toda a iconografia de um soldado da juventude hitlerista. O mal que ele carrega pode ser indetectável, o que o torna repulsivo aos olhos da sociedade. Por isso, ele oculta suas tatuagens, mesmo que ainda se vista com toda a simbologia neonazista. Contudo, ao observarmos a personagem de Sigourney Weaver, Norma Haverhill, apenas vemos suas atitudes como absurdas. Porém, é nela que o mal se manifesta de forma ainda mais perigosa, pois não deixa marcas visíveis. Nós  nivelamos às ações de Narvel, e, assim, o que Norma faz é percebido como normal pela sociedade, apesar de representar uma repugnância igualmente profunda.

    Mesmo abordando um assunto relevante, o longa de Paul Schrader enfrenta alguns problemas. O passado de Narvel não é bem explorado, o romance com Maya é repentino e mal construído. Com 1h50 de duração, muitos elementos precisariam ser melhor desenvolvidos, o que não acontece. As situações têm resoluções rápidas porque são superficialmente tratadas. No entanto, Schrader finaliza sua trilogia "Homem em um Quarto" de maneira aparentemente satisfatória.

 

Nota:06/10