Salamandra | Crítica


    As relações coloniais ainda permeiam os corações das antigas metrópoles europeias. Isso não é diferente no longa-metragem do iniciante Alex Carvalho, que se desafia a adaptar o romance homônimo do escritor francês Jean-Christophe Rufin, "Salamandra", com estreia marcada para 27 de junho nos cinemas do país.

    Depois de passar anos cuidando do pai, Catherine (Marina Foïs) se sente sufocada pelo contraste entre seus sentimentos e sua realidade. Ela foge para o Brasil, esperando se reconectar com sua irmã. Nesse novo cenário, livre de responsabilidades, mas ainda desorientada, ela se envolve num romance inesperado com Gil (Maicon Rodrigues), um jovem carismático. Catherine é tocada pela fragilidade de Gil, e a atração mútua entre eles surge do desejo compartilhado de aceitação, ambos como estrangeiros nessa nova paisagem.

    Nos minutos iniciais, o diretor deixa claros os traços coloniais, quando Catherine e sua irmã Aude (Anna Mouglalis) participam de um jantar às cegas (os participantes têm os olhos vendados, apreciando a refeição apenas pelo paladar), onde o anfitrião narra a história de como os escravizados no Brasil rejeitaram a fruta-pão, que hoje é considerada uma iguaria pelos grupos abastados. Catherine deixa claro que é como os pobres locais, já que não gostou da fruta. Ela se engana, pois é dotada de privilégios devido à sua ascendência europeia. Por mais que não seja esnobe como os outros à mesa, a personagem de Marina Foïs não deixa de ser uma "colonizadora" que chegou ao novo mundo. Os traços de colonialismo estão sutilmente espalhados pelo filme, seja pelos resquícios na divisão social, seja pela forma como Catherine usa o corpo de Gil para se satisfazer sexualmente.

    O que chama a atenção durante a trama é como os dois personagens rompem a barreira da comunicação. Mesmo que ela seja francesa e ele brasileiro, os dois conseguem se comunicar até certo ponto, já que não há uma conversa mais profunda entre eles. A relação é baseada no interesse que cada um tem no outro.

    Alex Carvalho opta por um movimento estático da câmera em boa parte da trama. Em muitos momentos, a câmera permanece parada, tornando-nos meros observadores. O diretor utiliza poucos movimentos na condução da história, talvez para dar a impressão de mistério sobre onde a narrativa vai terminar.

    "Salamandra" é um bom filme, mas deixa a desejar em alguns pontos, como explicar melhor a situação das irmãs Catherine e Aude, e por que a última negligenciou os cuidados com o pai, levando Catherine a procurar a irmã. De qualquer forma, o longa acaba sendo interessante, mas provavelmente ficará restrito a um público pequeno, visto que não é o tipo de trama que agrada à maioria dos brasileiros.


Nota: 6