Estranhos Caminhos | Crítica com SPOILER




    Ainda que de forma discreta, a pandemia de COVID-19 aos poucos vem ganhando destaque nos longas-metragens. "Estranhos Caminhos" utiliza a pandemia como pano de fundo para seu drama fantástico, que estreia em 1º de agosto nos cinemas nacionais. O filme foi rodado inteiramente em Fortaleza e narra a história de David (Lucas Limeira), um jovem cineasta convidado a participar de um festival em sua cidade natal, justamente no momento em que a pandemia se agrava.

    Surpreendentemente, David é obrigado a entrar em contato com Geraldo (Carlos Francisco), seu pai, com quem não fala há mais de dez anos. Dirigido e roteirizado por Guto Parente, "Estranhos Caminhos" explora a relação fragilizada entre pai e filho. David, sem notícias do pai há uma década, vê-se forçado a reencontrá-lo ao retornar para Fortaleza, o que o obriga a enfrentar seu passado.

    Com o avanço da pandemia, David precisa da ajuda de Geraldo, já que a pousada onde estava hospedado fechou devido ao proprietário ter contraído COVID-19. Relutante, Geraldo aceita abrigar o filho por um curto período.


**Aviso de spoilers a partir deste ponto.**


    David e Geraldo enfrentam uma convivência tumultuada, em grande parte devido à resistência de Geraldo em aceitar a presença do filho. Apesar de anos sem se verem, Geraldo sente que David está invadindo seu espaço, resultando em frequentes conflitos. Essa tensão é evidenciada pelos enquadramentos de câmera, que sempre mostram David e Geraldo distantes, em polos opostos. Em um momento, Geraldo cria uma barreira de livros para simbolizar o distanciamento entre pai e filho. A relação conturbada entre eles está profundamente ligada à imagem idealizada que David tem do pai, desconhecendo-o verdadeiramente e projetando suas próprias concepções sobre Geraldo.

    David não busca apenas abrigo; ele deseja recuperar o tempo perdido, tentando, mesmo que de forma desajeitada, estabelecer um diálogo com um pai que reluta em compartilhar detalhes de sua vida. Essa dinâmica fica evidente quando David pergunta sobre os escritos do pai.

    No entanto, o verdadeiro motivo por trás dessa desconexão é revelado no final do filme: Geraldo está morto. As alucinações de David, conversando com o pai, são projeções de suas próprias suposições sobre Geraldo. A diretora de fotografia, Linga Acácio, insere pistas sobre o destino de Geraldo através de sua cinematografia. Ela utiliza a cor azul em momentos específicos, sugerindo a natureza irreal das cenas.

    "Estranhos Caminhos" tem se destacado em diversos festivais, conquistando inúmeros prêmios. No Festival do Rio, foi premiado com Melhor Roteiro para Guto Parente e Melhor Ator Coadjuvante para Carlos Francisco. Também recebeu o prêmio de Melhor Filme na Mostra Autorias da 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes e foi o grande destaque brasileiro no Festival de Tribeca. Em Tribeca, onde teve sua estreia mundial como o único longa brasileiro na competição internacional, "Estranhos Caminhos" venceu em todas as categorias em que competiu: Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Performance.


    Contudo, o filme dirigido por Guto Parente pode enfrentar resistência do público em geral, que pode achá-lo confuso e pouco atrativo devido à sua narrativa rica em metáforas e simbolismos.


Nota: 5,5/10