Ninguém Sai Vivo Daqui | Crítica

 


    Colônia foi um hospital psiquiátrico onde ocorreu um dos maiores genocídios da história do Brasil. A história de Colônia ganhou destaque graças ao livro de Daniela Arbex, "Holocausto Brasileiro", que narra o cotidiano deste “campo de concentração” localizado em Barbacena, Minas Gerais. O sucesso do livro fez com que o cinema voltasse suas atenções ao assunto, gerando um documentário e o longa "Ninguém Sai Vivo Daqui".

     No começo dos anos 70, a jovem Elisa é internada à força pelo pai no Hospital Psiquiátrico Colônia, por ter engravidado do namorado. Após passar por muitos abusos, Elisa, junto com outros colegas injustiçados, luta para encontrar uma maneira de fugir desse verdadeiro inferno.


    Arbex, ao conceber seu livro, trouxe à luz um lado da nossa história totalmente esquecido. No entanto, quando sua obra foi adaptada, sua potencialização foi elevada ao máximo. Infelizmente, "Ninguém Sai Vivo Daqui" não consegue realizar o mesmo feito dos documentários produzidos, simplesmente porque não consegue levar para as telas o terror que ocorria naquele local.

     Esse problema ocorre provavelmente por um simples motivo: o longa, inicialmente concebido como uma série de seis episódios para o Canal Brasil, agora disponível na Globoplay, possui em sua trama muito mais detalhes do que o filme. Com 1h30 de duração, o longa sofre de uma péssima edição, deixando de lado fatos importantes para o desenvolvimento e imersão naquele universo.


    Logo no início da trama, Elisa (Fernanda Marques) é levada por um jagunço de seu pai para a estação de trem da cidade. No vagão, cheio de pessoas, ela conhece Gilberto (Arlindo Lopes). Neste momento, Elisa encontra a primeira pessoa que pode ser seu aliado nesse local desconhecido. Ao chegarem, Gilberto revela para Elisa que a mãe, com intermédio do padre, o mandou para lá. Essa primeira cena, mostrando o vínculo entre os dois personagens, é material da série, mas foi ignorada na trama do filme. A elipse entre Elisa entrando no vagão e tendo seu primeiro contato com Gilberto já em Colônia não funciona porque a cena principal foi cortada, o que me leva a acreditar que o longa está cheio desses “buracos”. Isso, contudo, não diminui o trabalho dos atores, com destaque para Fernanda Marques, Augusto Madeira e Rejane Faria, que estão muito bem em seus papéis.

    A escolha de levar a série em formato de filme para os cinemas foi um tiro no pé dos realizadores da obra, que poderiam apenas armar uma bela campanha publicitária para a estreia da segunda temporada da série, que está em produção. Sobre a série, tive a oportunidade de assistir a um episódio e ela me chama a atenção, primeiro para saber o que ficou de fora do longa e também porque acho a trama interessante.

Nota5,5/10