Disney e o sonho apenas na ficção


    Hoje em dia, é quase impossível contratar um serviço digital sem aceitar um contrato de adesão. Por exemplo, ao adquirir um celular Android, o consumidor é obrigado a criar uma conta Google, pois, sem ela, o dispositivo torna-se inutilizável. Além disso, é necessário aceitar os termos de uso do Gmail e outros serviços associados. Situação semelhante ocorre com a Apple, embora sem a exigência de um e-mail específico da empresa.

    Em uma entrevista para os extras da segunda temporada de *Westworld*, Jonathan Nolan comentou que quase todos nós assinamos acordos de licença de usuário sem ler as letras miúdas. De fato, a maioria das pessoas aceita esses contratos sem compreender as possíveis consequências. Recentemente, surgiu uma notícia de que a Disney alegou que um homem não poderia processar a empresa pela morte de sua esposa em um de seus parques. O motivo? Ele havia assinado um teste gratuito do Disney Plus e, ao fazê-lo, concordou com termos que incluíam a renúncia ao direito de processar a empresa em um tribunal, restringindo-se à arbitragem.

    Embora seja nossa responsabilidade como usuários ler os contratos antes de aceitá-los, é difícil imaginar que alguém teria tempo para analisar todos os detalhes em cada serviço de streaming, compra de celular ou assinatura de aplicativo. Se lêssemos cada cláusula, muitas vezes encontraríamos termos com os quais não concordamos, e provavelmente deixaríamos de contratar vários serviços. No entanto, em um mundo onde quase tudo envolve a aceitação de contratos de adesão, as empresas frequentemente aproveitam essa aceitação rápida para incluir cláusulas abusivas que prejudicam os usuários e protegem suas marcas.

    O recente caso da Disney revela uma faceta preocupante: uma empresa que se orgulha de vender sonhos e promover inclusão em suas obras pode, na verdade, estar vendendo ilusões. A imposição de cláusulas abusivas em contratos sem relação direta, como a assinatura do Disney Plus, que impacta os direitos do consumidor em caso de incidentes nos parques da empresa, exemplifica esse comportamento. 

    A lição que podemos extrair dessa situação é clara: a falta de atenção aos contratos de grandes empresas pode acarretar prejuízos enormes para os consumidores. Se não tomarmos medidas para combater essas práticas agora, podemos enfrentar um futuro em que as empresas coloquem ainda mais seus interesses acima dos direitos dos usuários.