O Bastardo | Crítica

    Nesta quinta-feira (12), chega aos cinemas o novo filme de Nikolaj Arcel, diretor de A Torre Negra. O Bastardo (Bastarden) é protagonizado por Mads Mikkelsen, conhecido por suas atuações em 007: Cassino Royale e Hannibal.  

    Ambientado no século XVIII, na Dinamarca, a trama acompanha o Capitão Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen), um herói de guerra orgulhoso e ambicioso, mas empobrecido. Ele embarca em uma missão arriscada: transformar uma terra inóspita e estéril em uma colônia próspera, tudo em nome do rei, em troca de um título de nobreza. No entanto, o território também está sob o domínio de Frederik De Schinkel, um nobre vaidoso e implacável que enxerga Kahlen como uma ameaça ao seu poder. Ao lado de um casal fugitivo das garras de De Schinkel, Kahlen começa a construir uma pequena comunidade. Contudo, o confronto entre os dois homens se intensifica, prometendo um desfecho tão brutal quanto suas próprias personalidades.  

    Assim como em muitos filmes baseados em fatos reais, O Bastardo toma liberdades criativas ao retratar a história de Ludvig Kahlen. A obra de Arcel se inspira no romance Kaptajnen og Ann Barbara (2020), de Ida Jessen, que mescla elementos da narrativa dinamarquesa com influências dos faroestes estadunidenses. Essa mistura reflete-se no ritmo do filme, que, embora possa parecer lento para alguns, é eficaz para o desenvolvimento da trama.  

    Ludvig Kahlen é o típico homem obstinado, com um único objetivo: conquistar sua nobreza. Ele não pode se dar ao luxo de perder tempo, mas os contratempos são inevitáveis. Desde furtos cometidos por uma jovem romani até as adversidades climáticas e, claro, o obstáculo maior: Frederik De Schinkel, um aristocrata que não aceita concorrência.  

    O que realmente se destaca em O Bastardo é a complexidade moral de Kahlen. Ele não é o herói clássico nem o vilão, mas um homem cheio de nuances, movido por ambições pessoais e uma obstinação inabalável. Já Frederik De Schinkel, por outro lado, é um nobre que, está longe de exibir a mesma profundidade. Diferente de Kahlen, que luta contra suas circunstâncias, De Schinkel sempre usufruiu dos privilégios de sua classe, tornando suas ações não apenas cruéis, mas previsivelmente arrogantes. Sua falta de empatia é fruto direto de sua riqueza e posição social, o que o torna uma figura de fácil desprezo, sem a mesma ambiguidade moral que permeia Kahlen. Ao evitar a idealização do protagonista, Arcel cria um retrato mais complexo, enquanto deixa claro que, para figuras como De Schinkel, a arrogância e o abuso de poder vêm como heranças de berço

    A direção de Arcel é competente, mantendo o filme dentro das expectativas, sem grandes inovações, mas entregando uma narrativa envolvente que destaca um período pouco explorado da história dinamarquesa. O Bastardo pode não ser revolucionário, mas certamente desperta a curiosidade e a reflexão daqueles que buscam mais do que uma simples aventura.  


Nota: 7/10