A Disney parece insistir em erros estratégicos. Na última sexta-feira (08), estreou em São Paulo a D23, evento inspirado no modelo norte-americano de encontro para fãs. Criada em 2009, a D23 é o fã-clube oficial da The Walt Disney Company, cujo nome faz referência ao "D" de Disney e ao ano de fundação do estúdio na Califórnia, em 1923.
A proposta da D23 é apresentar e divulgar futuras produções da Disney, incluindo filmes, séries, animações e novidades do Disney Plus. Com a intenção de expandir o evento para além dos Estados Unidos e Japão, a D23 finalmente chegou ao Brasil. No entanto, a edição brasileira não trouxe o impacto esperado em comparação à versão original, pecando por falta de novidades exclusivas e diferenciais.
Enquanto a Disney parece focar a D23 como uma espécie de “caça-níquel” no Brasil, o evento perdeu a oportunidade de cativar os fãs com conteúdos exclusivos. Em vez disso, grande parte do espaço foi dedicada a uma loja de 900m², com mais de 1.000 itens oficiais e produtos exclusivos para o evento, reforçando a ideia de que o objetivo principal era maximizar o faturamento com vendas. Assim, a D23 Brasil acaba sendo apenas uma sombra do evento original, com uma estrutura voltada a capitalizar sobre o bolso do público brasileiro.
Outro ponto relevante é a escolha de São Paulo como sede, o que evidencia a falta de uma estratégia diferenciada. Realizar a D23 na mesma cidade que sedia a CCXP, apenas algumas semanas antes, sem grandes exclusividades, dilui a relevância do evento. O Rio de Janeiro, por exemplo, poderia ter sido uma alternativa que agregaria valor ao evento, oferecendo um diferencial geográfico e simbólico.
Além disso, a D23 Brasil ocorreu em novembro, dois meses após a edição oficial nos EUA, realizada em agosto. Que novidades a D23 Brasil poderia trazer que justificassem um evento independente? “Mufasa”, um dos grandes projetos do estúdio, já havia lançado seu trailer oficial em agosto, mas foi reapresentado na D23 Brasil como novidade. Outro exemplo é o próximo filme da saga "Toy Story", cuja data de estreia foi divulgada no início do ano. Esses casos reforçam a impressão de que o evento, tal como realizado, não trouxe surpresas para o público brasileiro.
Essa estratégia da Disney com a D23 no Brasil revela problemas semelhantes aos enfrentados pelo Disney Plus, que, em 2023, registrou um prejuízo de US$ 512 milhões. O serviço de streaming, focado em conteúdo de nicho, enfrenta dificuldades para manter relevância em um mercado cada vez mais globalizado. A D23, sendo um evento altamente segmentado, esbarra no mesmo desafio de ampliar seu apelo. Assim como o Disney Plus, a D23 Brasil precisa repensar sua abordagem para evitar os “mesmos” erros de um conteúdo restrito, que limita o alcance e o impacto.
Resta saber se a D23 continuará no Brasil e como o evento poderá se ajustar melhor ao mercado nacional, oferecendo um diferencial que vá além das vendas e realmente conecte a Disney aos fãs brasileiros