Se olharmos para os anos 80 e 90, é evidente que essas duas décadas compartilharam um ponto em comum: o protagonismo jovem na cultura pop e na televisão. Esse movimento ganhou força em 1981, quando estreou nos Estados Unidos um dos maiores ícones da cultura jovem, a MTV. Essa emissora, com seu foco na música e no entretenimento voltado para adolescentes, rapidamente conquistou o público. No Brasil, a MTV teve papel semelhante, apresentando programas das mais variadas vertentes como o “Beija Sapo”, “Erótica MTV” entre outros, ambos voltados para os jovens, e dominando o canal 24 no Rio de Janeiro. A MTV foi uma verdadeira casa para o público adolescente, que podia se ver representado na tela.
Outro grande expoente da cultura jovem na TV brasileira foi o Programa Livre, comandado por Serginho Groisman. Enquanto os adultos tinham talk shows focados em suas pautas, o Programa Livre era dedicado ao público jovem. Foram oito anos de entrevistas, música e debates nos quais os jovens podiam interagir e fazer perguntas que só eles teriam coragem de fazer. O programa foi ao ar por 11 temporadas, até 22 de dezembro de 2001, consolidando-se como um espaço essencial para a juventude da época.
A presença do jovem no entretenimento não se limitava à televisão; o cinema também abraçava essa audiência. John Hughes, por exemplo, roteirizou e dirigiu uma série de filmes que se tornaram clássicos para os adolescentes, como Gatinhas e Gatões, Mulher Nota 1000, Clube dos Cinco e Curtindo a Vida Adoidado. Esses filmes dialogavam com a juventude dos anos 80, tanto nos Estados Unidos quanto no exterior, abordando questões da adolescência de forma autêntica e divertida. Além dele, outros cineastas também voltaram sua atenção para esse público, tornando o cinema uma extensão da voz jovem.
No Brasil, essa produção cultural voltada ao público adolescente continuou forte nos anos 90. Um exemplo é o filme Sonho de Verão (1990), protagonizado por Sérgio Mallandro. Na trama, um casal viaja para a Europa após perder a filha, e Léo (Sérgio Mallandro) se aproveita da situação para invadir a mansão deles com amigos e promover uma festa desenfreada, que culmina com a chegada de um ônibus cheio de jovens. O filme capturou o espírito de diversão e o clima festivo da juventude brasileira.
Mas talvez o ponto de virada mais importante tenha ocorrido em 1994, com a adaptação para a televisão de Confissões de Adolescente, um sucesso que teve origem no livro e na peça de teatro homônimos, ambos de grande popularidade. A série, produzida inicialmente pela TV Cultura e depois pela Band, teve três temporadas e foi indicada ao Emmy Internacional em 1995 como Melhor Programa Infantojuvenil. Estrelada por Maria Mariana, Georgiana Góes, Deborah Secco e Dani Valente, a série revelou uma nova geração de atrizes. As personagens Diana, Bárbara, Carol e Natália enfrentavam os dilemas típicos da adolescência: questões de identidade, primeiros amores, gravidez, sexo e drogas, tudo sob a tutela do pai Paulo (Luis Gustavo), um advogado bem-sucedido. “Confissões de Adolescente” não só conquistou o público, mas também despertou o interesse de outras emissoras para investirem em produções adolescentes.
Na sequência, em 24 de abril de 1995, estreou na Rede Globo Malhação, uma novela no formato de “soap opera” estadunidense , destinada ao público jovem. Inicialmente planejada para durar três anos, a novela foi ao ar por 25 anos, com 27 temporadas e 6.191 episódios. Malhação tornou-se uma escola para jovens atores, muitos dos quais lançados para o estrelato, e era um espaço que acompanhava a juventude brasileira, atualizando-se conforme a mudança de gerações.
Hoje, no entanto, é difícil encontrar na TV aberta um espaço cativo para o público adolescente. O fim da MTV Brasil e de Malhação representou uma lacuna. Enquanto as crianças ainda têm desenhos e novelas na TV Cultura e no SBT, os adolescentes foram deixados de lado. A internet, com suas plataformas de vídeo e redes sociais, pode ter contribuído para essa mudança, mas nem YouTube nem outras plataformas oferecem o mesmo tipo de conteúdo focado e em sintonia com os jovens, como nos anos 80 e 90.
O fim de Malhação também representou uma perda significativa para a revelação de novos talentos. Recentemente, em três cabines de cinema, assisti aos filmes As Aventuras de Poliana - O Filme, Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo e Avassaladoras 2.0. Em todos, observei que, embora o elenco jovem contasse com figuras influentes nas redes sociais, faltava experiência de atuação. Não é uma crítica ao elenco jovem como um todo, mas, sem a formação que Malhação oferecia, os filmes acabaram prejudicados por atuações limitadas.
A televisão aberta ainda exerce um papel relevante no Brasil, mas precisa repensar sua estratégia para incluir novamente o público adolescente, que um dia teve uma “casa” própria na TV.