Propaganda é a Alma do Negócio: Como a Netflix Resgata o Modelo de TV Aberta para se Reinventar

 

    Em 2017, o cenário do streaming era bem diferente. A Netflix reinava praticamente sem concorrência. Apesar de alguns serviços, como o Amazon Prime Video, já estarem no mercado, outros, como GloboPlay (2015), Apple TV+, Disney+ (2019) e HBO Max (2020), só surgiriam mais tarde e sem grande ameaça à liderança da Netflix.

    Não era surpreendente, então, ver a Netflix, em sua conta oficial no Twitter, declarar algo como "Love is sharing a password" ("Amor é compartilhar uma senha"). A própria empresa incentivava o compartilhamento, fortalecendo sua imagem de acessibilidade e de serviço que "aproxima pessoas".


    Porém, esse incentivo ficou no passado. A Netflix mudou de postura e iniciou uma campanha global para acabar com a prática que, ironicamente, endossava. Cativados pela facilidade e acessibilidade, muitos aderiram ao serviço. No entanto, se tivéssemos olhado para outros setores, teríamos notado um sinal de que essa "liberalidade" era temporária.

    A Netflix, na realidade, não consegue manter todos os seus custos apenas com as assinaturas. A empresa precisou buscar novas fontes de receita e tomou duas decisões estratégicas. Primeiro, intensificou a restrição ao compartilhamento de senhas, uma medida impopular, mas que gerou 9,33 milhões de novos assinantes. Segundo o jornal O Globo, cerca de 100 milhões de pessoas acessavam o serviço sem pagar.

    Com isso, após a restrição de senhas, a Netflix não só conseguiu novos assinantes, mas reforçou o hábito do streaming, fidelizando-os com séries e filmes populares que conseguem "sair da bolha" e atrair diferentes públicos.

    A segunda estratégia foi introduzir anúncios em alguns de seus planos, uma tática já utilizada por outras plataformas. De acordo com a revista Variety, a Netflix atingiu 70 milhões de usuários globalmente em seu plano com anúncios. A presidente de publicidade da empresa declarou que "agora, mais de 50% das novas inscrições são para o plano com anúncios nos países onde essa opção está disponível."

    Por mais que as reclamações sobre o fim do compartilhamento de senhas e a introdução de comerciais ocorram, a gigante do streaming parece consolidar outra tendência, demonstrando que o modelo da TV aberta é o mais viável. Afinal, praticamente todos os segmentos de entretenimento antes da internet foram mantidos por anúncios; não seria o streaming de filmes e séries que ficaria fora deste mercado já consolidado há décadas.

    No Brasil, a Netflix já planeja implementar essa estratégia, contando com o apoio do Kantar Ibope para monitorar o alcance e a frequência entre diferentes editoras, com previsão de início para 2025.

    Com esses movimentos, a Netflix mostra que continua adaptando seu modelo de negócios às novas exigências do mercado e às pressões financeiras. Se bem-sucedida, essa transformação pode consolidá-la como líder também no segmento de streaming com publicidade, incentivando outros serviços a seguirem o mesmo caminho.