A CRÍTICA A SEGUIR CONTÉM UM SPOILER REVELADOR. RECOMENDO QUE ASSISTA AO FILME ANTES DE LER.
Entenda: essa é a melhor opção para aproveitar a experiência. Contudo, adianto que o filme só estreia no Brasil em março do próximo ano, sujeito a alterações de data. Volte aqui para ler sobre Strange Darling (Desconhecidos) depois de assisti-lo. Mas, se a curiosidade for grande, descubra agora por que este pode ser o melhor filme de terror de 2025.
Uma narrativa transformadora
Às vezes, uma boa história precisa apenas de uma nova forma de ser contada. Esse é o grande trunfo do longa dirigido por JT Mollner em Strange Darling.
JT Mollner, que acumula as funções de diretor e roteirista, revela-se um verdadeiro estrategista. Seja no material de divulgação, seja na condução da trama, ele manipula habilmente o público. Para que sua narrativa funcione com perfeição, Mollner explora duas variáveis essenciais: clichês do gênero e temas amplamente presentes no imaginário popular e nas notícias do dia a dia.
A trama
Lady é uma mulher que precisa correr para sobreviver. Ela foge desesperadamente de Demon, um homem disposto a ir a qualquer extremo para matá-la. Essa é a trama de Strange Darling, apresentada de forma resumida e objetiva. Um dos diferenciais do longa é o fato de ser inteiramente filmado em película 35mm, um detalhe que o diretor destaca logo no início do filme.
Mollner opta por contar sua história em capítulos não lineares, um recurso que enriquece a trama. A obra começa com uma fotografia em preto e branco, mostrando um close no rosto de Demon enquanto uma voz pergunta se ele é um serial killer. Em seguida, o público o vê estrangulando uma pessoa. A narração em off informa sobre os atos cruéis de um assassino em série que aterrorizou entre 2018 e 2020, revelando, ao final, que o filme dramatiza uma história real.
A narrativa, de maneira engenhosa, começa no meio da história, no terceiro capítulo. Essa escolha é fundamental para o desenvolvimento. Durante 1h40, o público é apresentado aos capítulos e às peças do enredo, que se encaixam para desvendar o ponto central da trama.
Estilo visual e utilização das cores
O ator e agora diretor de cinematografia Giovanni Ribisi realiza um trabalho impressionante em sua estreia como diretor de fotografia em um longa-metragem. O prólogo em preto e branco, com close no rosto de Demon e a pergunta sobre ser um serial killer, seguido pela cena de estrangulamento, demonstra como as aparências podem enganar. Essa construção visual remete à ideia de que o mundo não é apenas preto e branco, mas repleto de tons de cinza — e, neste caso, vai além, explorando uma vasta paleta de cores que inclui um hipnotizante azul neon e um vermelho intenso.
O azul neon transmite serenidade e tranquilidade, criando um contraste com a atmosfera de tensão iminente. Essa tonalidade aparece em cenas mais calmas, mas perde predominância conforme o roteiro se desenvolve. Quando o vermelho assume o controle visual, simboliza a intensidade e o perigo crescentes. Ribisi utiliza as cores de forma magistral, além de empregar o recurso da dioptria dividida, em uma clara referência ao estilo de Brian De Palma.
Reflexões sobre preconceitos e escolhas
Strange Darling é um filme sobre preconceitos e a importância de não tomar decisões precipitadas. A narrativa ensina que é necessário investigar antes de adotar qualquer posição, pois as aparências podem enganar. Contudo, o longa corre o risco de ser mal interpretado, podendo ser visto como um manifesto pró-homens injustiçados por aqueles que desejam distorcer sua mensagem.
O destaque vai para a atriz Willa Fitzgerald, que interpreta The Lady. Sua atuação é marcada por uma transição impecável entre emoções, sem exageros, e sem tornar sua personagem caricata. O mesmo se pode dizer de Kyle Gallner, que interpreta o sádico perseguidor. O ator entrega uma atuação convincente, alternando emoções de forma igualmente eficaz.
No fim, o longa é uma análise crítica sobre a complexidade humana e os julgamentos apressados. Com uma direção e fotografia que transcendem expectativas, Strange Darling se torna uma experiência cinematográfica marcante, desafiando o espectador a refletir muito além da sala de cinema.