Com o crescimento das redes sociais, especialmente o Instagram, a exposição de uma vida perfeita tornou-se quase um padrão. Festas luxuosas para crianças, como aniversários e “mêsversários”, aparecem como uma extensão desse fenômeno, criando pressões sociais que ultrapassam classes econômicas. A necessidade de corresponder a essas expectativas muitas vezes leva famílias de baixa renda a comprometerem seu orçamento em busca de aprovação social e pertencimento.
É sobre essa temática que o diretor Davidson D. Candanda constrói seu longa-metragem “Crônicas de Uma Jovem Família Preta”, que estreia no dia 26 de dezembro. A obra acompanha Hellena, dançarina e trancista; Lucas, barman; e o pequeno Dom, prestes a completar dois anos. Mesmo enfrentando dificuldades financeiras, o casal decide organizar uma festa de aniversário para o filho, acreditando ser importante celebrar a infância e proporcionar momentos inesquecíveis.
“O filme celebra a vida das nossas crianças, mostrando a importância da família preta como espaço de reexistência”, explica Candanda. Sua intenção é provocar reflexões sensíveis e profundas, ao mesmo tempo em que emociona o público com uma representação autêntica da negritude no cinema brasileiro.
A decisão de Hellena e Lucas de realizar o aniversário de Dom, mesmo sem condições financeiras ideais, é retratada de maneira intimista. Hellena, mais empolgada, lidera o sonho, convencendo o marido a realizar a festa. Essa dinâmica familiar revela um desejo legítimo de celebrar, mas também expõe como pressões externas, muitas vezes alimentadas por redes sociais, impactam famílias de menor poder aquisitivo.
Embora o documentário tenha momentos genuínos, algumas cenas perdem autenticidade. Há momentos em que os retratados parecem estar recriando diálogos de forma artificial, o que prejudica a imersão do espectador. Essa sensação de encenação é particularmente evidente em interações como a de Lucas com um amigo no trabalho, que soa forçada.
O ponto mais forte da obra é sua intenção de representar a negritude de forma positiva, longe de estereótipos racistas. Candanda busca valorizar a celebração da vida e o amor em famílias negras, uma abordagem importante e necessária no cinema brasileiro. Ainda assim, o documentário poderia aprofundar a crítica ao impacto das redes sociais. Ao retratar a pressão por eventos perfeitos, a obra teria potencial para explorar como essas dinâmicas afetam emocionalmente e financeiramente famílias que lutam para equilibrar sonhos e realidade.
A distribuição do filme ainda não foi detalhada, mas sua importância transcende limites geográficos ou de classe social. A proposta de Candanda é relevante e necessária, especialmente em um cenário cinematográfico que frequentemente negligencia narrativas negras autênticas.
Nota: 5/10.
Apesar de limitações na execução, “Crônicas de Uma Jovem Família Preta” apresenta uma narrativa sensível e relevante. Com uma abordagem mais aprofundada e crítica sobre o impacto das redes sociais, o filme poderia ter alcançado um impacto ainda maior. Mesmo assim, merece atenção por sua tentativa de valorizar a representatividade e questionar padrões sociais.