Quem não aprecia uma boa história de vingança? Alexandre Dumas presenteou a literatura e, por extensão, o cinema e a televisão com uma das mais memoráveis tramas do gênero: O Conde de Monte Cristo. O sucesso dessa obra é tão grande que ela figura no top dez de obras mais adaptadas para essas mídias. Dumas também é um dos autores mais frequentemente levados às telas, e, em 5 de dezembro de 2024, estreia nos cinemas brasileiros mais uma adaptação de sua icônica história.
Na trama, Edmond Dantès (Pierre Niney), um jovem promissor, é preso injustamente no dia de seu casamento, vítima de uma conspiração. Após quatorze anos aprisionado na ilha de Château d’If, ele consegue fugir. Agora rico e assumindo a identidade do Conde de Monte Cristo, Edmond busca vingança contra aqueles que o traíram.
Um alerta importante para quem assistir ao filme: evite comparações. Dependendo de sua idade, é provável que a adaptação de 2002, estrelada por Jim Caviezel e Henry Cavill, seja a versão que você tem em mente. Contudo, é essencial destacar que, assim como o longa de 2002, esta nova produção também toma liberdades criativas em relação à obra original. Isso não significa que o filme de 2024 seja mais ou menos fiel ao livro, mas, sim, uma releitura diferente.
Dirigido por Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte, que recentemente adaptaram outra obra de Dumas, Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan e Milady, o filme entrega uma boa adaptação, mas comete alguns deslizes. O principal deles é a decisão de não dividir o longa em duas partes, como foi feito com Os Três Mosqueteiros. O Conde de Monte Cristo é uma narrativa muito mais extensa e complexa que as aventuras de Athos, Porthos e Aramis, e, apesar de suas três horas de duração, o filme acaba parecendo apressado em certos momentos, especialmente no desenvolvimento da vingança de Edmond.
Essa pressa prejudica a construção de algumas relações importantes, como a de Edmond com o abade Faria ou com seus aliados. Além disso, algumas escolhas narrativas são questionáveis, como a substituição do pai de Villefort, simpatizante de Napoleão, por uma irmã, ou a decisão de não incluir um romance entre Edmond e Haydée, como na obra original. Por outro lado, certas alterações são bem-vindas, como a transferência do resgate de Albert Morcerf do carnaval veneziano para Paris e a ideia do tesouro do abade ser vinculado aos templários.
Um dos maiores problemas do filme são as elipses narrativas. No cinema, a elipse é uma técnica que consiste em omitir eventos para acelerar a narrativa, confiando na capacidade do público de preencher as lacunas. Entretanto, em O Conde de Monte Cristo, algumas elipses são tão abruptas que comprometem a compreensão e a imersão. Por exemplo, em um momento, Edmond fala sobre se casar com Mercedes; no seguinte, já está na cerimônia do casamento. Da mesma forma, sua fuga de Château d’If é seguida imediatamente por sua chegada à casa da família Morcerf, sem uma transição adequada.
Apesar dessas limitações, o filme apresenta pontos positivos. Destacam-se a utilização dos disfarces de Edmond, mesmo que de forma limitada, a introdução de Haydée e o fato de ele não retomar seu relacionamento com Mercedes. O desenvolvimento do plano de vingança também é bem conduzido, garantindo que as três horas de duração sejam agradáveis e envolventes.
Jérôme Rebotier assina a trilha sonora, que contribui para criar o clima de aventura característico do gênero capa e espada. Destaque para as faixas La vie d’aprés e Le trésor. A mise-en-scène também merece elogios, com cenários e locações bem trabalhados. Além disso, maquiagem e figurino são cuidadosamente desenvolvidos, acrescentando riqueza visual à produção.
O Conde de Monte Cristo (2024) é uma bela aventura de três horas que passam voando. Apesar dos problemas técnicos mencionados, eles não diminuem o trabalho de Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte, que entregam um ótimo entretenimento. Este longa soma-se aos dois filmes de Os Três Mosqueteiros, reafirmando a importância do gênero capa e espada no cinema. Afinal, essas boas e velhas aventuras sempre garantem diversão para o público.
Nota:7/10