Baby Girl | Crítica com Spoiler


    Estreou no dia 9 de janeiro nos cinemas brasileiros Baby Girl, filme que rendeu a Nicole Kidman o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza por sua atuação. A atriz agora surge como forte candidata ao Oscar. O longa, dirigido por Halina Reijn, conhecida por Morte, Morte, Morte (2022), explora os perigos de um envolvimento arriscado no ambiente corporativo, com temas que tocam desejo, manipulação e poder.

    A trama acompanha Romy (Kidman), uma CEO de sucesso que coloca tudo a perder ao se envolver com Samuel (Harris Dickinson), o novo estagiário da empresa. Além de Kidman e Dickinson, o elenco conta com Antonio Banderas, Sophie Wilde, Izabel Mar, Esther Rose McGregor e Vaughan Reilly. A Diamond Films, maior distribuidora independente da América Latina, traz o filme ao Brasil.

    O marketing de Baby Girl é problemático. A divulgação, especialmente online no Brasil, vende o filme como um thriller erótico. Mas quem espera algo no estilo de 9½ Semanas de Amor ou até mesmo Cinquenta Tons de Cinza deve ajustar as expectativas. O filme foca menos no erotismo explícito e mais na psicologia de uma mulher que mergulha fundo em suas fantasias.

    Nicole Kidman interpreta Romy, uma mulher poderosa, mas frustrada sexualmente. Seu marido, avesso a jogos de dominação, não compreende seus desejos. Ao conhecer Samuel, ela projeta nele o dominador ideal. A questão central, e que torna o filme mais interessante, é que, apesar de parecer dominada, Romy detém o controle, um conceito que o roteiro trabalha com certo brilhantismo, mas com pouca coragem para se assumir como genuinamente erótico.

    O relacionamento entre Romy e Samuel, porém, é um ponto fraco. A tensão sexual se desenvolve de maneira abrupta. Romy o vê domando um cachorro e pensa que ele pode fazer o mesmo com ela. A partir daí, tudo acontece de forma forçada, o que compromete a profundidade da conexão entre os personagens e dificulta que o público compre a química entre eles.

    O título Baby Girl também pode confundir o espectador. Embora pareça se referir à protagonista, é Samuel quem incorpora o significado no contexto do filme. Na cultura BDSM, o termo sugere submissão feminina, mas também é usado para homens que misturam vulnerabilidade com traços de dominação. Essa ambiguidade é interessante e reforça a dualidade temática.

    O ponto mais alto do longa é seu desfecho. A revelação de que Romy permitiu a dominação para se satisfazer — e que o fez com pleno controle da situação — redefine o conceito de poder. Sua força como estrategista de negócios, que construiu um império ao manipular circunstâncias adversas, ecoa em suas escolhas íntimas. Mesmo quando o jogo parece escapar de suas mãos, ela sempre sabe o que está fazendo.

    No fim das contas, Baby Girl entrega mais uma provocação psicológica do que um thriller erótico tradicional. Ainda que o roteiro não tenha coragem de se aprofundar no erotismo, é uma obra que aborda poder e submissão sob um viés distinto. Um filme interessante, mas que pode desapontar aqueles que esperam algo mais incendiário.

Nota: 6,5/10