Conclave | Crítica

Conclave é um thriller político envolvente, onde o poder e a fé se entrelaçam em um jogo perigoso de segredos e ambição.

    Existem filmes que transcendem o entretenimento, se posicionando como verdadeiras obras de arte que merecem ser vivenciadas na tela grande. Conclave é um desses exemplos notáveis e chega em breve aos cinemas, prometendo uma experiência cinematográfica memorável.

    O longa reúne um elenco de peso, incluindo Ralph Fiennes, Isabella Rossellini, Stanley Tucci e John Lithgow. A trama acompanha o Cardeal Lawrence (Fiennes), que, a contragosto, assume a responsabilidade de coordenar a eleição do novo líder da Igreja após a morte repentina do Papa. O que deveria ser uma tarefa cerimonial se transforma em um dilema complexo, quando segredos sombrios e conspirações ameaçam não apenas sua fé, mas os próprios pilares da Igreja.

    Sob a direção do talentoso Edward Berger, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional por Nada de Novo no Front, o filme adapta o livro homônimo de Robert Harris. Berger mais uma vez exibe seu domínio narrativo e visual, demonstrando uma habilidade que o coloca como forte candidato ao Oscar de Melhor Filme e Direção em 2025. Sua abordagem imprime um ritmo contemplativo, que reflete a serenidade da vida eclesiástica. Momentos de silêncio são interrompidos por rasgos precisos de tensão, onde o violoncelo ou o violino surgem para anunciar avanços cruciais na trama, elevando ainda mais o suspense em cenas de revelações decisivas.

    O enredo se destaca pelos rituais meticulosamente retratados após a morte do pontífice. Apesar das intrigas políticas e dos pecados que permeiam o ambiente, há um respeito ritualístico profundo que sustenta a narrativa. Por mais sedentos que estejam pelo poder, os cardeais devem respeitar as tradições que preservam a liturgia e a simbologia da Igreja.

A fotografia, comandada por Stéphane Fontaine, é um espetáculo à parte. Mais do que criar belos quadros dignos de moldura, Fontaine utiliza a técnica renascentista do chiaroscuro, que joga com contrastes de luz e sombra para ressaltar emoções, volumes e profundidade. Inspirada em mestres como Caravaggio e Rembrandt, essa abordagem intensifica a dramaticidade e o mistério, elementos centrais do filme. A solidão do Cardeal Lawrence é frequentemente destacada por enquadramentos que o isolam em planos fechados, sublinhando a tensão e o confinamento do processo de escolha do novo Papa.

Os símbolos visuais são abundantes e poderosos: portas frequentemente fechadas, corredores que parecem infinitos e um pássaro preso em uma gaiola – uma metáfora pungente sobre aprisionamento e liberdade dentro da estrutura rígida da Igreja. Cada elemento contribui para enriquecer a experiência narrativa.

    Ralph Fiennes entrega uma atuação magistral como o atormentado Cardeal Lawrence, trazendo nuances e profundidade ao personagem. Um dos momentos mais impressionantes ocorre quando ele alterna habilmente entre o inglês e o italiano ao conversar com um bispo, interpretado por Sergio Castellitto. Essa transição linguística sublinha a complexidade do papel de Lawrence e sua posição como possível candidato ao papado, onde o domínio de múltiplos idiomas é essencial.

    Isabella Rossellini também se destaca em uma atuação pontual, mas impactante. Sua personagem simboliza a posição subalterna das mulheres na Igreja: destinada a servir e permanecer em silêncio. A imagem do passarinho enjaulado espelha sua condição, assim como cenas em que ela se encontra isolada, ouvindo os homens sem jamais ter voz.

     Conclave é um thriller político e investigativo impecável, ambientado nas intrincadas estruturas de poder do Vaticano. Com atuações memoráveis, direção primorosa e um design visual cativante, o filme entrega uma experiência completa que só pode ser plenamente apreciada no cinema. Uma obra que combina arte e tensão, merecedora de uma nota máxima: 10/10.