Capitão América: Admirável Mundo Novo | Crítica com Spoiler

 

    A Marvel continua tentando encontrar um novo rumo após a Saga do Infinito. Agora, chega aos cinemas Capitão América: Admirável Mundo Novo, filme que busca consolidar Sam Wilson como o herdeiro definitivo do escudo. No entanto, em vez de construir um caminho sólido para o personagem, a produção parece mais interessada em resgatar elementos do passado e emplacar peças de um tabuleiro que ainda não faz sentido.

    Na trama, após enfrentar resistência e provar seu valor, Sam Wilson assume de vez a identidade do Capitão América. Com um legado a honrar, ele se une a Joaquín Torres, seu sucessor como Falcão, para investigar o roubo de um carregamento de Adamantium refinado. O que parecia um crime isolado revela-se parte de uma conspiração muito maior, colocando o herói diante de ameaças que podem comprometer a estabilidade global.

    O grande problema do filme é sua dependência excessiva de outras produções do MCU. Por ser uma continuação direta da série Falcão e o Soldado Invernal, a trama se ancora em eventos que muitos espectadores podem não ter acompanhado, exigindo tempo de tela para reexplicar certos pontos. Um exemplo disso é Isaiah Bradley, interpretado por Carl Lumbly, cuja importância na mitologia do Capitão América se perde na necessidade de contextualizar sua presença para o público.

    Mas essa não é a única muleta do roteiro. O longa também recorre a um filme quase esquecido do MCU: O Incrível Hulk (2008), com Edward Norton. Samuel Sterns, vivido por Tim Blake Nelson, retorna como vilão, e sua presença serve principalmente para pavimentar a introdução do Hulk Vermelho, interpretado por Harrison Ford. Em vez de investir em um antagonista que desafie a essência do Capitão América, o roteiro opta por reviver um personagem de outra franquia para justificar a transformação do General Ross – e, no processo, reduz o Esquadrão Serpente a meros capangas descartáveis.

    Harrison Ford, aliás, entrega uma atuação burocrática. Seu General Ross não possui o peso dramático necessário, e a caracterização – incluindo o bigode artificial – compromete ainda mais sua presença em tela. O personagem parece deslocado, como se estivesse protagonizando um thriller político genérico, sem a tensão que a trama exige.

    Além disso, o filme ainda tenta resolver pendências de outras produções. O Celestial de Eternos – ignorado pelo próprio estúdio – volta a ser citado, assim como o Adamantium, introduzido sem um propósito claro. Essas decisões reforçam a sensação de que a Marvel, sem uma grande saga para amarrar suas histórias, está atirando para todos os lados, tentando criar conexões sem saber exatamente para onde ir.

    No fim, Capitão América: Admirável Mundo Novo se sustenta como pode, mas deixa evidente a falta de direção do estúdio. Ao invés de fortalecer Sam Wilson como o novo Capitão, o filme o transforma em um coadjuvante dentro de um enredo que prioriza remendos e introduções apressadas. Se a Marvel não encontrar um norte, sua nova fase pode ser lembrada não como uma evolução, mas como uma sucessão de promessas vazias.

Nota: 6