Better Man | Crítica


Um musical que prende o espectador na cadeira, seja pelo humor, pela emoção ou, claro, pela vontade de cantar os sucessos de Robbie Williams.

    O cinema adora uma boa cinebiografia musical. Nos últimos anos, Rocketman, Bohemian Rhapsody e Back to Black contaram a trajetória de grandes ícones da música britânica, conquistando o público e a crítica. Agora, é a vez de Better Man, que retrata a vida de Robbie Williams, astro do pop muitas vezes confundido com o falecido ator e comediante Robin Williams.

    Popularizado como membro da boyband Take That, Robbie Williams atingiu o estrelato de verdade ao seguir carreira solo — um feito inédito no mundo das boybands, mas já chegamos lá.

A trama e a abordagem singular

    Better Man acompanha a ascensão, a queda e a redenção de Robbie Williams, um dos maiores astros pop britânicos. Sob a direção de Michael Gracey (O Rei do Show), a narrativa é contada a partir da perspectiva do próprio cantor, explorando com humor e sinceridade os desafios da fama.

    O grande diferencial do filme está na representação do protagonista como um macaco humanoide. A escolha inusitada surgiu de uma conversa entre Gracey e Williams, na qual o cantor afirmou que, se fosse um animal, seria um macaco, pois se via dessa forma no palco. Com esse insight, o diretor decidiu utilizar essa metáfora visual para contar a história do artista, o que torna a abordagem única e inovadora.

    Essa decisão criativa não apenas destaca o longa das cinebiografias convencionais, mas pode até abrir caminho para novas tendências dentro do gênero. Ao longo de 2h15 de duração, Better Man conduz o espectador por diferentes fases da vida de Robbie, desde a infância até a vida adulta, com números musicais (10) impressionantes de suas canções mais icônicas.

A Síndrome do Impostor como fio condutor



    O filme acerta ao usar a Síndrome do Impostor como elemento central da trama, transformando-a não apenas em um motor narrativo, mas também no maior obstáculo de Robbie. Desde pequeno, o cantor sente a necessidade de provar constantemente seu valor — seja em uma peça da escola, onde seu pai, mais interessado nos próprios holofotes, sequer aparece, ou na audição para entrar em uma boyband.

    Esse sentimento o acompanha ao longo da carreira, alimentando inseguranças que o levam ao abuso de álcool e drogas, culminando em episódios de colapso, como quando desmaiou no palco durante um show. O agravamento da situação faz com que o Take That o expulse do grupo, levando-o a uma fase de declínio pessoal e profissional.

O feito inédito de Robbie Williams


    Diferente do que geralmente ocorre com boybands, Robbie Williams contrariou todas as expectativas. Normalmente, quando esses grupos se separam, apenas o vocalista principal continua em evidência, enquanto os demais membros caem no esquecimento ou buscam outras carreiras.

    Robbie, que ocupava o posto de "bad boy" no Take That, não era o rosto principal da banda. Ainda assim, conseguiu alcançar mais sucesso que qualquer um de seus ex-colegas, tornando-se um dos artistas solo mais bem-sucedidos da música britânica — algo que nenhum outro "bad boy" de boyband conseguiu replicar até hoje.

    Após sua saída do Take That, o cantor teve um relacionamento com Nicole Appleton, do grupo All Saints, e essa fase ganha bastante destaque no longa. O filme explora momentos delicados da vida pessoal de Robbie, incluindo suas lutas contra os vícios e os impactos da fama em sua saúde mental.

O Brasil e a música de término que virou hit em casamentos


    Robbie Williams fez sucesso no Brasil, mas de forma pontual. Muitas de suas músicas ficaram conhecidas graças às trilhas sonoras de novelas, o que garantiu ao cantor um público fiel por aqui. O curioso é que uma de suas canções mais populares no país, sobre o fim de um relacionamento, acabou se tornando um hit em festas de casamento. A ironia desse fenômeno só reforça o impacto que sua música teve, mesmo sem uma presença massiva na mídia brasileira.

Ainda assim, Better Man pode enfrentar dificuldades para conquistar o público brasileiro. O filme é muito britânico, ou seja, foi claramente pensado para o público do Reino Unido e, em segundo plano, para os fãs do cantor ao redor do mundo. Quem não está familiarizado com Take That, All Saints ou até mesmo Oasis pode sentir que algumas referências passam batidas.

Vale a pena assistir?

    Definitivamente, sim! Mesmo que a história não tenha um impacto tão forte para quem não conhece Robbie Williams, o filme funciona muito bem como um musical envolvente. Os números musicais são excelentes, as músicas escolhidas são cativantes e, se ignorarmos o fato de ser baseado em uma história real, a narrativa se sustenta como uma trama original e bem construída.

    Better Man é a pedida perfeita para o fim de semana. Um musical que prende o espectador na cadeira, seja pelo humor, pela emoção ou, claro, pela vontade de cantar os sucessos de Robbie Williams.

Nota: 8,5